segunda-feira, 24 de setembro de 2007
A divisão do caratê em vários estilos representou um duro golpe na modalidade, tão forte quanto a morte do mestre Nakayama, pioneiro no desenvolvimento deste esporte. Uma das graves conseqüências da separação é a ausência do caratê nos Jogos Olímpicos. Outros esportes de combate, como a luta livre, o judô, o boxe e o taekwondo já participam há tempos do maior evento esportivo mundial. Hoje, de acordo com especialistas, a reunificação do caratê parece algo impossível. Segundo eles, existe um grande número de entidades que dirigem os variados estilos de caratê e nenhuma delas concorda em abrir mão de seus poderes.
No Pará, a exemplo de outros Estados brasileiros, o caratê está ramificado em várias entidades, como a Federação Paraense de Karatê-Do Tradicional, Federação Paraense de Karatê Interestilos do Pará e Federação Estadual de Karatê do Pará, entre outras. A cada diia surgem novas entidades, contribuindo para a pulverização e enfraquecimento do esporte, de acordo com especialistas. A divisão, na opinião do carateca Paulo Ramoa, de 39 anos, é política. 'Todos querem o poder para si. Ninguém concorda com a unificação se não tiver o comando do esporte', afirma.
PREJUÍZOS
A segmentação do caratê tem provocado, além da exclusão das Olimpíadas, outros prejuízos ao esporte, como o enfraquecimento na revelação de novos talentos. Pessoas ligadas ao meio afirmam que, antes do surgimento de tantos novos estilos, o caratê era muito mais forte mundialmente. A divisão aconteceu a partir da morte do mestre Nakayama, que comandava o caratê mundial. Embora convivem em harmonia, chegando a disputar competições juntas, respeitando as diferenças nos estilos de cada uma, as federações locais não acreditam na possibilidade de reunificação do esporte.
'É improvável que o caratê volte a ser um só. Existe grande número de confederações espalhadas pelo mundo', observa Take Machida, ligado à Federação Paraense de karatê-Do Tradicional. Opinião parecida tem Pedro Yamaguchi, da Federação Estadual de Karatê do Pará, a primeira a surgir no Estado e que está vinculada ao COB (Comitê Olímpico Brasileiro). 'Cada federação tem o seu poder e não aceita que uma só entidade comande o esporte. Em outras palavras posso dizer que existe muito cacique para pouco índio', afirma Yamaguchi.
Na avaliação de Yamaguchi, a divisão 'só tem causado o enfraquecimento do caratê.' Ele cita como causas a não participação do esporte nas Olimpíadas e a diminuição no surgimento de novos talentos do esporte. 'Antes do aparecimento de todos esses estilos, o caratê era muito mais forte', garante.
Para Yamaguchi, luta por poder impede união
A vida de Pedro Yamaguchi se confunde com o caratê, esporte que ele pratica, ensina e dirige no Pará há 41 anos. O veterano lutador é o presidente da Federação Estadual de Karatê do Pará (FEKP), entidade ligada à Federação Brasileira de Karatê (FBK), que por sua vez é a única entidade da modalidade a ter o reconhecimento do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Em função disso, Yamaguchi reclama para a entidade que comanda o direito de representar a modalidade de forma unificada no Estado. 'Somos a mais antiga e a mais reconhecida também', afirma Yamaguchi. A federação fundada pelo tetracampeão brasileiro de caratê funciona há 20 anos.
Hoje, a FEKP conta com cerca de 20 academias filiadas e mais de 800 atletas espalhados por Belém e interior do Estado. Ferrenho crítico da divisão do caratê, Yamaguchi afirma que o surgimente de estilos diferentes da luta só provocou prejuízo à modalidade. 'Não fosse essa divisão, o caratê no Pará estaria hoje num nível muito mais avançado', acredita.
O dirigente afirma que o surgimento de tantas entidades dirigentes do caratê é mais uma questão política. 'Cada uma dessas federações não abre mão de contar com o seu poder', acusa.
A entidade comandada por Yamaguchi aceita todos os estilos, mas tem no caratê olímpico o seu ponto forte, já tendo revelado grandes talentos, como Adelina Rocha, vice-campeã sul-americana, e Paulo Vieira, campeão brasileiro. Apesar de ser favorável à unificação do caratê, Yamaguchi reconhece que a aglutinação de todas as entidades em uma só é algo muito difícil de acontecer. 'Niguém concorda em ceder', diz.
Take sonha com entidade central
Contando com cerca de 12 academias afiliadas, a Federação Paraense de Karatê-Do Tradicional (FPKT) é uma das mais representativas entidades desse esporte no Pará. Take Machida, de 32 anos, um dos membros da entidade, conta que cerca de oito mil atletas já passaram pela FPKT. 'Hoje, temos de 400 a 500 atletas federados', diz. O dirigente, filho de Yoshizo Machida, introdutor do caratê no Estado, e irmão de lutadores de grande destaque, como Lyoto e Chinzô, admite que o surgimento de tantas federações só provocou prejuízos ao caratê.
Mas, assim como Yamaguchi e outras pessoas ligadas ao ramo, Take não acredita que uma dia essas entidades venham a se unificar. 'É muito difícil que isso venha a acontecer um dia', diz. 'Todas as entidades locais estão ligadas a confederações nacionais e internacionais e não vão, de forma alguma, querer abrir mão disso', justifica Take.
Ele acredita que se estivesse organizado em uma só entidade, o caratê estaria bem mais forte hoje. 'O ideal seria ter todos os atletas filiados a uma só entidade. Isso traria aspectos positivos ao caratê, mas como disse, acho difícil que isso venha a ocorrer', argumenta. Apesar da divisão, Take chama a atenção para o fato de que as várias entidades conviverem amigavelmente em competições promovidas no Estado. 'Cada uma dessas federações adota um estilo diferente do caratê, mas todas se respeitam', afirma Take.